5 de outubro de 2012

Mapas podem ajudar no combate a incêndios em centros urbanos

Mapas podem ajudar a revelar nas operações de combate a incêndio urbano

Em São Paulo um estudo realizado por Sarah Fernandes revela “coincidência” entre favelas incendiadas e operações urbanas de SP.

As favelas da capital paulista que sofreram incêndios nos últimos anos estão concentradas nos perímetros das chamadas operações urbanas projetadas pela prefeitura, sejam as já iniciadas ou as ainda em planejamento. É o que mostra um levantamento produzido pela Rede Brasil Atual sobrepondo os endereços das últimas ocorrências com as áreas a serem afetadas pelas políticas de reurbanização de Gilberto Kassab.

O que é uma operação urbana?

É um instrumento de intervenção política no espaço urbano – legalmente consolidado no Estatuto da Cidade de 2001 – que define áreas interessantes para intensificar o uso do solo. São lugares estratégicos, onde o poder público investe em infraestrutura adicional, como obras viárias, saneamento e remoção de favelas e cortiços, “abrindo espaço para empreendimentos imobiliários privados”, de acordo com o site da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).

São Paulo possui hoje quatro operações urbanas em vigor (Água Branca, Centro, Faria Lima e Água Espraiada) e mais três a serem iniciadas (Lapa-Brás, Rio Verde-Jacu e Mooca-Vila Carioca). O Plano Diretor da cidade, de 2002, previu 13 áreas interessantes para o poder público formular operações urbanas.

Segundo Sarah (2012), o traçado georreferenciado das operações urbanas previstas no Plano Diretor da cidade foi cedido pela Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano (Emplasa). Como a administração municipal tem autonomia de alterar o traçado, também foram utilizadas informações de mapas disponíveis nos sites da prefeitura.

Ao todo foram georreferenciados 89 dos 103 endereços de incêndios em favelas que constam no documento entregue pela Defesa Civil para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Incêndios em Favelas da Câmara Municipal. Para a elaboração do mapa foi usado o sistema colocado à disposição pela empresa Google. As ocorrências vão de janeiro de 2008 a agosto de 2012. Confira o resultado:



A Defesa Civil paulistana registrou no período de estudo: 103 incêndios em favelas entre 2008 e 2012, o Corpo de Bombeiros contabiliza 530 ocorrências no mesmo período, de acordo com informações cedidas pela corporação àRede Brasil Atual. Só neste ano foram registrados 68 incêndios em favelas.

As operações Águas Espraiadas e Faria Lima chamam particularmente a atenção por concentrarem incêndios dentro do seu perímetro ou nas suas proximidades. As operações ainda não iniciadas Lapa-Brás, Rio Verde-Jacu e Mooca-Vila Carioca – que foram licitadas pela prefeitura em 2011 – já concentram grande parte das ocorrências.

“Eu estranho essa coincidência. Nós nos perguntamos por que ocorrem mais incêndios em áreas mais valorizadas e menos na periferia, sendo que as favelas da periferia são muito maiores? Será que as das áreas valorizadas têm mais risco de incêndio? Eu não vejo essa correlação”, afirma a diretora executiva do Movimento Defenda São Paulo, Lucila Lacreta.
A prefeitura foi procurada pela Rede Brasil Atual para se posicionar sobre a correlação entre os incêndios em favelas e as operações urbanas da cidade, mas nenhuma resposta foi apresentada até o fechamento da reportagem.

Lucila lembra que, originalmente, as operações previam projetos de urbanização das favelas. “A proposta é que elas tenham uma solução urbanística e que as pessoas continuem morando naquele perímetro, mas isso é muito difícil de acontecer”, avalia. “Esses terrenos que sofreram incêndios estão em áreas muito valorizadas ou que passarão por valorização, com grande aporte de investimento público e imobiliário. E a favela atrapalha”.

O coordenador estadual da Central de Movimentos Populares, Raimundo Bonfim, concorda. As operações urbanas, em tese, são instrumentos para fazer intervenções em áreas consideradas degradadas, para recuperá-las e construir moradias de interesse social nelas. Mas, diz o ativista, em São Paulo tem funcionado ao contrário. "Pegam determinadas áreas para fazer especulação imobiliária e 'limpar' moradores de baixa renda para construir grandes obras ou para favorecer o mercado imobiliário.”

A Câmara dos Vereadores instalou a CPI dos Incêndios em abril deste ano para “apurar as causas e responsabilidades pela recorrência dos incêndios em favelas no Município de São Paulo”, de acordo com as atribuições descritas no site da Câmara Municipal. Apesar disso, apenas duas reuniões de investigação foram realizadas até agora, ambas neste mês. Isso porque os outros encontros não conseguiram atingir a presença mínima de quatro vereadores da comissão, todos aliados do prefeito Gilberto Kassab.

A CPI chegou a requerer junto ao Corpo de Bombeiros um registro completo das ocorrências, porém a corporação informou, por meio de documento oficial, que “não é a autoridade competente para realização de perícias e consequentemente identificação de causas”. E a investigação segue sem avanços.

O relator e o vice-presidente da CPI só foram definidos no começo deste mês, após uma série de quatro novos incêndios em favelas da cidade. Na reunião seguinte, os vereadores participantes ouviram o coordenador-geral da Defesa Civil, Jair Paca de Lima, que na ocasião afirmou que o tempo seco é um dos principais agravadores dos incêndios – desconsiderando que muitas das ocorrências ocorreram em condições climáticas diferentes.

O que revela os mapas de incêndio em Belém?

Em Belém as chamadas de incêndio em 2011 ocorreram a qualquer hora do dia, contudo, alcançaram seu maior valor às 17 horas com 31 ocorrências de incêndios. Observa-se na Figura 1, uma evolução nas chamadas de incêndios entre os horários de 7horas e 17 horas e uma redução considerável nos horários das 13 horas no ano de 2011.


O mapeamento de densidade de incêndio tem revelado áreas com uma nítida concentração de incêndio nos bairros mais populosos. Existe uma sazonalidade nas concentrações de incêndio no decorrer do ano. Observa-se um deslocamento na mancha de incêndio na cidade de Belém, começando no Centro Histórico e se espalhando por toda a cidade.

No mês de agosto, como maior número de atendimentos de incêndios, registrou-se 73 intervenções do corpo de bombeiros que corresponde a (14%) do total de ocorrências, significando uma média de dois incêndios ao dia.

Distribuição das ocorrências de incêndio de Belém no de 2011. Fonte: Elaboração Santos, L.S.

Uma análise preliminar usando-se o Mapa de Kernel tem-se espalhamento de pontos críticos nos bairros do município de Belém, sendo de fundamental importância para implantação de ações de prevenção principalmente nos meses de agosto e outubro. A média de atendimento em 2011 foi de 41 incêndios por mês, ou seja, mais de um incêndio ao dia.

A análise dos padrões pontuais das ocorrências de incêndio o pode auxiliar os órgãos responsáveis na elaboração de medidas de prevenção e ainda servir de apoio para uma política adequada de planejamento de distribuição de recursos destinados à proteção contra incêndio urbano.

Outra análise importante é o levantamento e tratamento de informações relativo aos hidrantes instalados na rede de distribuição de água.


O resultado através de mapas revelam a localização aproximada dos hidrantes, sua estrutura física e adensamento, possibilitando termos uma visão diferenciada da situação atual dos hidrantes urbanos na capital, principalmente no Bairros da Campina.


Assim, os mapas podem ajudar a revelar nas operações de combate a incêndio urbano. A análise dos padrões pontuais das ocorrências de incêndio pode auxiliar os órgãos responsáveis na elaboração de medidas de prevenção e ainda servir de apoio para uma política adequada de planejamento de distribuição de recursos destinados à proteção contra incêndio urbano.


Referências Bibliográficas
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http://brasiliaempauta.com.br/artigo/ver/id/809/nome/Mapa_revela_coincidencia_entre_favelas_incendiadas_e_operacoes_urbanas_de_SP

Um comentário:

Representações Cartográficas

Globo - representação esférica, em escala pequena, dos aspectos naturais e artificiais de uma figura planetária, com finalidade ilustrativa.

Mapa - representação plana, em escala pequena, delimitada por acidentes naturais ou políticos-administrativos, destinada a fins temáticos e culturais.

Cartas - representação plana, em escala média ou grande, com desdobramento em folhas articuladas sistematicamente, com limites de folhas constituídos por linhas convencionais, destinada a avaliação de distância e posições detalhadas.

Planta - tipo particular de carta, com área muito limitada e escala grande, com número de detalhes consequentemente maior.

Mosaiso - conjunto de fotos de determinada área, montadas técnica e artisticamente, como se o todo formasse uma só fotografia. Classifica-se como controlado, obtido apartir de fotografia aéreas submetidas a processos em que a imagem resultante corresponde à imagem tonada na foto, não controlado, preparado com o ajuste de detalhes de fotografia adjacentes, sem controle de termo ou correção de fotografia, sem preocupação com a precisão, ou ainda semicontrolado, montado combinando-se as duas características descritas.

Fotocarta - Mosaico controlado, com tratamento cartográfico.

Ortofotocarta - fotografia resultante da transformação de uma foto original, que é um perspectiva central do terreno, em uma projeção ortogonal sobre um plano.

Ortofotomapa - conjunto de várias ortofotocartas adjacentes de uma determinada região.

Fotoíndice - montagem por superposição das fotografias, geralmente em escala reduzida. É a primeira imagem cartográfica da região. É o insumo necessário para controle de qualidade de aerolevantamentos utilizados na produção de cartas de método fotogramétrico.

Carta Imagem - imagem referênciada a partir de pontos identificáveis com coordenadas conhecidas, superposta por reticulado da projeção

Revista Geografia, Conhecimento Prático, n 23, p 54. ed. Escala