23 de julho de 2014

GEOPROCESSAMENTO APLICADO A GESTÃO E ANÁLISE DAS OCORRÊNCIAS DE INCÊNDIOS URBANOS NO CENTRO HISTÓRICO DE BELÉM-PA - 2009 a 2011.


FACULDADE INTERNACIONAL DE CURITIBA – FACINTER
LEONARDO SOUSA DOS SANTOS 



Trabalho de conclusão de curso apresentado à coordenação da Faculdade Internacional de Curitiba (FACINTER), com requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Gestão Ambiental.

 
 
Orientador: Prof. Rafael Lopes Ferreira
 


Introdução 
Os espaços urbanos históricos são áreas de muitos riscos e o de incêndio é, certamente, um dos mais graves. Essa risco possui dois grandes fatores: o próprio incêndio, que é um fenômeno de grande poder destrutivo, e o tecido urbano  destas  áreas históricas formado  por um aglomerado de edificações em ruas estreitas e sinuosas propícias a incêndios severos (ANDREZA, 2006).
Exemplos de grandes incêndios aconteceram na cidade de São Paulo, nos edifícios Andraus em fevereiro de 1972 e Joelma em fevereiro de 1974, resultando em 352 vítimas, sendo 16 mortos e 336 feridos (Andraus) e 499 vítimas, sendo 179 mortos e 320 feridos (Joelma).
Os incêndios em meios urbanos destroem habitações, fábricas, bibliotecas, museus, etc e podem provocar elevados danos e impactos materiais e pessoais como, por exemplo, o incêndio do dia 28 de janeiro de 2013 na Boate Kiss em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. Este incêndio deixou 239 mortos e 131 feridos. Logo, os incêndios urbanos tem se tornado presente e com tendência de virar grandes tragédias por vários fatores como à falta de hidrantes, dificuldades de acesso das viaturas e principalmente em função da falta de equipamento preventivos contra incêndios nos Centros Históricos.
No Brasil, o mapeamento e monitoramento de áreas de incêndio urbano têm aumentado significativamente nas últimas décadas, principalmente em edificações de grande porte em função do desenvolvimento e aplicação das normas de segurança. Porém, segundo Baranoski (2008), essas normas de segurança não atingiram as residências unifamiliares autônomas, principalmente aquelas localizadas em assentamentos urbanos precários onde os fatores de risco de incêndio são potencializados, devido principalmente às características das edificações e do aglomerado urbano onde as mesmas estão inseridas.
 
De acordo com BREDA (2010):
 
Nas últimas décadas, ocorreram grandes desenvolvimentos na prevenção e combate, sendo que o avanço das tecnologias informáticas promoveu novas perspectivas e ambições. Atualmente, existem modelos matemáticos que, através de simulação por computador, permitem prever com bons resultados a evolução de um incêndio, a propagação das chamas e fumos e o comportamento dos materiais e das pessoas.
 
Logo, este trabalho tem sua justificativa na medida em que possibilita compreender a distribuição espacial de dados oriundos de fenômenos ocorridos no espaço que segundo Câmara (2004), constitui hoje um grande desafio para elucidação de questões centrais em diversas áreas do conhecimento, com, por exemplo: saúde, questões ambientais, na geologia, na agronomia, incêndios entre tantas outras.
De acordo com Xavier (2004), o estudo da distribuição e o mapeamento de eventos espaciais vêm se tornando cada vez mais comuns, pois, tem sido útil para traduzir padrões existentes; gerar modelos explicativos de comportamento espaciais; mapeamento e zoneamento de regiões; monitoramento de áreas de risco e proteção ambiental.
Assim, o presente trabalho tem com objetivo identificar áreas de risco que precisam de maior atenção em função da alta densidade de incêndio e baixa cobertura de hidrantes para auxiliar os órgãos responsáveis na elaboração de medidas de prevenção adequada à proteção contra incêndio urbano no Centro Histórico de Belém.
Logo, é de entendimento intuitivo a necessidade de se estudar de forma padronizada o assunto, para tentarmos contribuir, com planejadores da segurança pública local, com dados que possam servir como subsídio para estabelecimento de ações para redução os índices atuais de incêndio urbano.
 
 
Grandes Incêndios urbanos do CHB 
O Centro Histórico de Belém, com suas construções do ponto de vista arquitetônico que datam períodos de plenitude, entre os quais, o período áureo da borracha no início do século XX, precisa de maior atenção. Segundo tenente Carlos Michida (2012), foi realizado mais de 365 fiscalizações em estabelecimentos no CHB, todavia, apenas 25 estavam com todos os quesitos de segurança em dia. Muitos estabelecimentos não possuíam os equipamentos de segurança necessários contra incêndio, como os extintores, placas fotossensíveis com indicação da saída de emergência e luminárias de emergência.
O primeiro grande incêndio que se tem relato em Belém ocorreu de no dia 13 de fevereiro de 1872. Até hoje não se sabe o que teria provocado, contudo este destruiu completamente o palacete residencial (no local onde fica hoje a Assembleia Legislativa do Estado) do influente político Dr. José Coelho da Gama e Abreu, o Barão de Marajó, que viria depois ser presidente da Província, de 1879 a 1881 (MENEZES, 2004).
Mas, foi na noite de 14 de janeiro de 1902 para a madrugada do dia 15 o pior incêndio já combatido pelo Corpo de Bombeiros. O incêndio irrompeu na Travessa Campos Sales nº 5, entre Quinze de Novembro e João Alfredo, no prédio onde funcionava a firma Frank da Costa & Cia, e onde ainda hoje está instalada a Loteria do Estado do Pará.
A 1 ½ da manhã de hoje as cornetas dos quartéis anunciaram que havia incêndio na cidade. Com effeito, à travessa Campos Salles, na casa exportadora de borracha entre as ruas Conselheiro João Alfredo e 15 de Novembro, lavrava forte e pavoroso incêndio, cujas causas, no momento, eram ainda ignoradas, falando-se todavia que o incêndio tivera origem no saguão do prédio. O fogo, na sua destruidora pavorosidade, comunicou-se ao armazém de ferragens dos Srs. Bastos, Archer & Cia, contíguo ao prédio incendiado, à travessa Campos Salles canto com a rua 15 de Novembro (MENEZES, 2004).

 
De acordo com Menezes (2004), um reporte das “Folhas do Norte” descreveu a magnitude do evento: “O incêndio que deu origem à tragédia, da casa exportadora de borracha, que durou vários dias, quase uma semana, com os Bombeiros municipais e voluntários revezando-se para extinguir novos focos que surgiam”.
Neste incêndio, autor afirma que aconteceu uma catástrofe no Corpo de Bombeiros. Antônio Lemos trata o assunto com “Luctuosa Catástrophe”. Antônio Lemos relata que quando já pela manhã os Bombeiros trabalhavam no que hoje se chama de “operação rescaldo”, ocorreu um desabamento. O mesmo com a veia jornalística, de quem foi um dos fundadores do jornal “A Província do Pará”, descreve a catástrofe: “o esmagamento de diversos bombeiros, inclusive da banda de música do CBMPA, sob os escaldantes escombros, suas carnes dilaceradas, rostos e cabeças sangrando, corpos mutilados”.
O último grande incêndio no Centro Histórico de Belém aconteceu por volta das 23h de domingo dia 26 de agosto de 2012. O incêndio de grandes proporções atingiu o prédio do Ministério da Fazenda, onde funciona a Receita Federal em Belém, localizado na Avenida Presidente Vargas. As chamas começaram em uma sala do 7º andar e depois atingiram outros andares do prédio. Segundo o Corpo de Bombeiros, o fogo se alastrou rapidamente por causa da grande quantidade de papel nas salas. As chamas atingiram do sétimo ao 12º andar.Este incêndio provocou a redução dos postos de atendimento da Receita Federal em quase 50%.
Neste contexto, em razão da frequente precariedade das instalações elétricas, natureza dos materiais de construção das edificações, às condições de segurança, acessibilidade, hidrantes sem manutenção e vazão apropriada, falta de extintores portáteis nos estabelecimentos comerciais, falta de equipamentos de detecção de incêndios e principalmente a falta periódica de vistorias técnicas o centro histórico de Belém com seus patrimônios históricos, vida humana e todos os bens pessoais dos seus residentes necessitam de urgente intervenção para melhoraria da sua segurança contra incêndio.
Assim, o Centro Histórico de Belém surge com uma área considerada de altíssimo risco em função da sua carga de incêndio e que podem trazem como conseqüência danos econômicos, sociais, financeiros e ambientais e a possibilidade da perda de vidas humanas em caso de desastres por incêndios de grande porte. 
Área de Estudo
 A área de estudo consiste numa poligonal que engloba o bairro da Cidade Velha e Campina, com coordenadas geográficas centrais de 01º27’17”S e 48º30’08”W. A Figura 1 mostra o Centro Histórico de Belém composto pelos bairros da Cidade Velha e Campina.
 
 
Figura 1 - Localização do centro Histórico de Belém.
Fonte: Adaptado de Guimarães, (2009).
 
 
O bairro da Cidade Velha é o mais antigo de Belém, onde em 12 de janeiro de 1616 surgir a cidade de Belém. Possui inúmeros prédios coloniais históricos, com azulejos portugueses, muitos dos quais tombados  pelo patrimônio histórico. O Bairro da Campina é uma referência para Belém, tanto cultural como econômica. Abriga majestosos prédio que remontam período áureo da borracha como teatro da Paz e o Bar do Parque. Este espaço abriga também o cinema mais antigo em funcionamento do Brasil, o cinema Olympia. Além dos prédios com representações de empresas, o bairro configura-se como o coração financeiro da capital do Pará. 

 
Metodologia
Para o presente trabalho realizou-se na primeira etapa uma pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Na pesquisa bibliográfica e documental, contemplaram-se referenciais teóricos nas literaturas técnicas disponíveis em: livros, manuais e legislações de outros Corpos de Bombeiros de nosso país.
Numa segunda etapa, foi realizado o levantamento, tratamento, tabulação e a geocodificação dos dados referentes às ocorrências de incêndios, do Centro Histórico de Belém, registrados pelas unidades bombeiros militar no banco de dados do Sistema de Cadastro de Ocorrências de Bombeiros (SISCOB) de 2009 a 2011. Os dados do SISCOB são quantitativos e qualitativos e referem-se ao número absoluto de ocorrências registradas e os qualitativos à natureza das mesmas, de acordo com o local, classe, porte, tipo, bem como ao fator locacional.
Na terceira etapa, com os dados sobre os endereços dos hidrantes disponibilizados pela Companhia de Saneamento e Abastecimento de Água do Estado do Pará (COSANPA), realizou-se o processo de georeferenciamento dos hidrantes do CHB. Foram coletadas informações das coordenadas geográficas “in loco” dos hidrantes existentes na área de estudo. A posição espacial dos hidrantes foi obtida por meio de GPS (Global Positioning System) da marca Garmin – etrex de 12 canais, do tipo métrico de navegação, com precisão planimétrica de 5m e 10m. Além das coordenadas, realizou-se o levantamento da situação física dos hidrantes, os quais foram registrados fotograficamente. Neste processo foram relacionados 11 hidrantes na área de estudo (Bairro da Campina e cidade Velha) pela COSAMPA que e Posteriormente com trabalho de campo foi atualizado para 27 hidrantes encontrados no CHB.
Na quarta etapa, elaboraram-se as áreas de densidades de incêndios e hidrantes do Centro Histórico de Belém, consideraram-se os eventos pontuais. A análise de padrões espaciais é importante quando há interesse direto no fenômeno geográfico e/ou processo em si. Neste processo utilizou-se o estimador de intensidade de Kernel, para elaboração das áreas de densidade e incêndio e hidrantes, cujos parâmetros básicos são: (a) um raio de influencia (r ≥ 0) que define a vizinhança do ponto a ser interpolado e controla o “alisamento” da superfície gerada; (b) uma função de estimação com propriedades de suavização do fenômeno. “A função da estimativa Kernel analisa os pontos de eventos considerando um malha ou grade de células pré-estabelecidas, calculando a quantidade de repetições de eventos dentro de cada célula e em suas proximidades utilizando algoritmos de distâncias, gerando um valor de densidade” (GUIMARÃES, 2009, p.93).
Na quinta etapa, realizou-se a construção da base do Centro Histórico de Belém geocodificada (streetbase) com os endereços de porta de cada lote e confecção dos mapas de Belém, foi utilizada a base cartográfica digital da Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém (CODEM), no formato DWG/CAD (desenho de objetos vetoriais). Estes foram processados e convertidos, segundo a natureza de informação e de tipologia geométrica para o formato “shapefile” (SHP), mantendo o sistema de coordenadas planas originais do arquivo da CODEM, para haver posterior compatibilidade no caso de expansão da área de estudo.
E por fim, na sexta etapa, utilizou-se o sistema de Informações Geográfico (SIG) software ArcGis 9.3 para armazenar em forma de camadas de informações que corresponde ao tema estudado. O programa favoreceu a criação de mapas com a finalidade de evidenciar a localização das ocorrências de incêndios no triênio 2009 a 20011 no CHB, a localização dos hidrantes do CHB, as regiões espaciais de maior densidade de incêndio e hidrantes e outros. Para construção das bases de dados inter-relacionáveis de informação utilizou-se o esquema lógico abaixo (figura 3).
 
 

Resultados
Neste trabalho, de acordo com esquema lógico acima, foram construídas e analisadas três camadas (plano de informações) inter-relacionadas de informações espaciais. É importante destacar que cada uma destas camadas possui origem e características diferentes. Por conseguinte, cada uma destas informações, construídas na forma de camada, possui, portanto limitações de análise inerente à sua própria construção.
Com a metodologia apresentada foi possível à elaboração do mapa de localização das ocorrências dos incêndios no triênio de 2009 a 2011 e mapa de localização dos hidrantes do no Centro Histórico de Belém, vide Figura 4. Foram registrados 25 incêndios entre 2009 a 2011, sendo: 8 em residências, 1 em local de Prestação de serviço, 2 em edificações de Lazer e/ou cultura, 9 em estabelecimentos comerciais, 1 em via pública, 3 em indústria, 1 em terreno baldio.
Tendo como referência o endereço dos incêndios e as coordenadas dos hidrantes pode-se observar visualmente aglomerados de pontos que sugerem a existência de concentrações comuns de risco e má distribuição dos hidrantes.
 
 
Figura 4 - Distribuição das ocorrências de incêndio (2009 a 2011) e dos hidrantes do Centro Histórico de Belém. Fonte: Auto, 2012.
 
Com os dados dos pontos de incêndios de 2009 a 2011, identificaram-se áreas de concentrações de ocorrências incêndio no CHB. Neste processo utilizou-se o estimador de densidade de “Kernel”.
De acordo com SANTOS (2003):

 
A estimação de kernel é um método de diagnóstico dos padrões espaciais de eventos pontuais sendo utilizado em diversos campos de pesquisa, especialmente nos bancos de dados georreferenciados, em consequência dos avanços obtidos nos sistemas de informação geográficas (GIS). A suavização de padrões espaciais de pontos por Kernel  passa pela seleção de um algoritmo eficiente de investigação por vizinhos mais próximos. 
 
Elaborou-se um mapa de densidade e os resultados obtidos conduziram à observação de que há uma nítida concentração de incêndio em três zonas no bairro da Campina. Na figura 5, verifica-se uma maior concentração dos incêndios nas áreas em vermelho, decaindo nos locais laranja, amarelo, respectivamente, até o verde onde não houve concentração, apenas alguns incêndios aleatórios.
 
 
Figura 5 - Distribuição das ocorrências de incêndio do CHB nos anos de 2009 a 2011 e “zonas quentes” de incêndios. Fonte: Autor, 2012. 
 
O CHB conta hoje com 27 hidrantes públicos, sendo que destes 24 são do tipo hidrante de coluna, 2 do tipo coluna de hidrante e 1 hidrante subterrâneo (Figura 6). O hidrante urbano é fabricado em ferro fundido e representa um dispositivo utilizado no abastecimento das viaturas tanques do Corpo de Bombeiros Militar, durante a ocorrência de incêndio (ABNT, 2004).
 
Figura 6 - Tipos de hidrantes urbanos do CHB: (a) hidrante coluna, (b) Coluna de hidrante e (c) Hidrante Subterrâneo. Fonte: Autor, 2011.
 
Através do plano de informação dos hidrantes do CHB, elaborou-se o mapa de localização e o mapa de intensidade estimada dos hidrantes. Observou-se que há “zona fria” de cobertura de hidrantes próximo do litoral do CHB. Também foi identificada uma má distribuição dos hidrantes nos bairros: Campina e Cidade velha, vide Figura 7. Todavia, de acordo com Leonardo (2011), “no aspecto de vazão L/m (litro do minuto) o CHB está muito aquém do ideal. Apenas 37 % possui vazão mínima (1000 L/min.) no período diurno e 25% com vazão mínima (1000 L/min.) no período noturno”. Este aspecto é importante, pois segundo Oliveira (2006), “As maiores dificuldades encontradas pelas equipes do Corpo de Bombeiros, diz respeito ao número de hidrantes e à falta de carga adequada para uma utilização dos poucos que existem na cidade”.
 
Figura 7 - Distribuição dos hidrantes no Centro Histórico de Belém e “zona fria” de hidrantes.
Fonte: Autor, 2012. 

 O Bairro da Cidade Velha, figura 7, possui somente 2 hidrantes o que aumenta a ameaça potencial as pessoas, propriedades, atividades econômicas incluindo os serviços públicos. O hidrante urbano é um dos mecanismos possíveis para redução da vulnerabilidade da comunidade com relação aos desastres provocados pelos incêndios (SILVA & COELHO, 2009).
Ainda segundo Coelho, 2009, a redução dos riscos de incêndio implica na redução da vulnerabilidade dos cenários e das comunidades em riscos. Ao se reduzir a vulnerabilidade de uma determinada comunidade, impulsiona-se sua capacidade para suportar os eventos adversos presentes em seu entorno.
Por isso, deve-se haver uma preocupação do Estado e do Município com o suprimento de água, em especial para guarnições de combate a incêndio que necessitam desse agente extintor no local do incêndio. Logo, os hidrantes urbanos de incêndio necessitam estar em plena condição de serem utilizados pelos bombeiros em caso de combate a incêndio. 
A figura 8 ilustra os raios das “zonas quentes” derivadas da concentração dos eventos de incêndios ocorridos entre 2009 a 2011 e o raio da “Zona fria” concentração de hidrantes no CHB. Logo, a precária estrutura do sistema de hidrantes urbano no centro Histórico de Belém pode dificultar o trabalho do Corpo de Bombeiro no combate a incêndio nesta região.
 
Figura 8 - “Zonas Quentes” de concentração de incêndios e “Zona Fria” de concentração de hidrantes urbanos no CHB. Fonte: Autor, 2012.

 
A Figura 9 mostra a superposição das camadas de “zonas quentes” de incêndio e “zona fria” de cobertura de hidrantes. Por interpretação visual entre estas duas camadas, observa-se que na região oeste do CHB existe apenas uma parte das três “zonas quente” de incêndio coberto pelo sistema de hidrantes urbanos. Segundo, o mapa de interseção dos incêndios e hidrantes no CHB, pode-se observar uma área potencialmente coberta pelo sistema preventivo de hidrantes urbanos e outras duas áreas vulnerável com baixa cobertura de hidrantes.A vulnerabilidade é uma condição intrínseca ao sistema que, em interação com a magnitude do evento ou acidente, caracteriza os efeitos adversos, medidos em termos de intensidade (COELHO. & SILVA, 2009).
Dessa maneira, verifica-se que quanto menores as condições de vulnerabilidades dos cenários menores serão as consequências dos desastres, logo, faz-se necessário reduzir os riscos e as vulnerabilidades desses locais, ou seja, as ameaças dos cenários, como medida de evitar que os eventos adversos aconteçam e desencadeiem um desastre.
O incêndio é uma combustão rápida, disseminando-se de forma descontrolada no tempo e no espaço (COELHO apud Seito 2008). Ainda segundo o mesmo autor, o incêndio é o fogo que foge ao controle do homem, queimando tudo aquilo que a ele não é destinado queimar; capaz de produzir danos ao patrimônio e à vida por ação das chamas, do calor e da fumaça.
A Segurança Contra Incêndio só é entendida como necessária quando algo falha e ocorre um incêndio com proporções capazes de destruir de forma significativa o valor da área atingida.
Assim, capacidade destrutiva de um incêndio urbano, a perda de bens materiais surge como uma consequência quase sempre inevitável e pode impedir a continuidade do funcionamento de empresas. Logo, outro fator proveniente dos resultados obtidos é a proximidade de várias agências bancárias das “zonas de quentes” de incêndio, vide Figura 9.
 
Figura 9 - Mapa com de interseção das “Zonas Quentes” e “Zona Fria” dos incêndios e hidrantes no CHB. Fonte: Autor, 2012. 
 
O CHB possui edifícios que apresentam particularidades que os distinguem dos núcleos urbanos e que potenciam a deflagração e a propagação de incêndios, e entre os quais: os materiais combustíveis que compõem a estrutura dos edifícios antigos; a elevada densidade de edifícios e as reduzidas distâncias de afastamento que apresentam entre si; a adaptação inadequada de edifícios para usos comerciais e muitas vezes com elevadas cargas de material combustível no seu interior; e a existência de instalações elétrica antigas, frequentemente são as principais causas de início de incêndio nestas áreas.
Na Figura 10, observa-se a superposição do mapa de uso e ocupação do solo com mapa das “zonas quente” de incêndio evidenciou que bancos, estabelecimentos culturais, locais de saúde estão no centro ou muito próximos aos locais de ocorrências de incêndio no período analisado. A identificação destas edificações é uma tarefa imprescindível para a elaboração de programas preventivos e como meio de avaliação de exposição diferenciada, pois, sabe-se que dependendo das consequências e proporções do incêndio, o mesmo pode desencadear um desastre, provocando a perda de vidas humanas e de bens materiais.

Figura 10 - Mapa de uso do solo no CHB e “zonas quentes” ocorrências de incêndios de 2009 a 2011.
Fonte: Autor, 2012. 
Na Figura 11, observa-se que as instituições financeiras estão próximas às áreas de maior concentração de hidrantes urbanos, mas, não significando uma área protegida, pois, os hidrantes devem está operantes e com vazão necessária entre 1000 L/min. a 2000 L/min., o que, nem sempre acontece. A falta de pressão nos hidrantes implica na demora nos abastecimento das viaturas e no deslocamento excessivo para outros pontos de tomada da água.
Segundo (2011), no aspecto de vazão L/m (litro por minuto) o CHB está muito aquém do ideal, pois, apenas 37% no período diurno e 25% no período noturno apresentam vazão mínima de 1000 L\min. 

 
De acordo com SILVA E COELHO (2009):
 
O hidrante urbano é um dos mecanismos possíveis para redução da vulnerabilidade da comunidade com relação aos desastres provocados pelos incêndios. O hidrante urbano é um dos mecanismos de redução da vulnerabilidade da comunidade com relação aos desastres provocados pelos incêndios. Dessa forma, reduzindo-se a vulnerabilidade, tem-se um aumento da capacidade de suportar os desastres provocados pelo fogo, que atinge a vida das pessoas no território urbano de modo intenso.

 
Figura 11 - Mapa de uso do solo do CHB e “zona fria” de cobertura de hidrantes. Fonte: Autor, 2012. 
 
Com base nos resultados, ficou evidente a necessidade de ampliação da rede de hidrantes urbanos, melhoria processo de vistorias técnicas e a elaboração de calendários de inspeção em prédios públicos e de grande circulação de pessoas, bem como a construção de espaços de diálogo entre os órgãos envolvidos com a questão da prevenção e combate a incêndios urbanos. 
 
Conclusão
Com os dados levantados, tratados, tabulados, geocodificados e espacializados foram possíveis desenvolver e apresentar resultados consistentes quanto à distribuição e concentração espacial dos incêndios e dos hidrantes no Centro Histórico de Belém.
Através de técnica empregada, foram encontrados conglomerados espaciais, áreas de risco que, portanto precisam de maior atenção por parte dos gestores públicos. Os mapas temáticos contribuíram sobremaneira para a gestão, análise e conclusão do trabalho, pois, representa uma técnica que facilita visualização e interpretação de resultados.
Contudo, seria adequado considerar a possibilidade de redistribuição dos hidrantes no bairro da Cidade Velha, principalmente nas principais vias no entorno do CHB, visto que, as ruas do Centro Histórico de Belém são estreitas, o que dificultam em alguns trechos, o acesso das viaturas do Corpo de Bombeiros, as ações de combate a incêndios, manobras de estabelecimento (posicionamento das viaturas e distribuição organizadas das mangueiras de água) e abastecimento de viaturas.
Espera-se que as informações apresentadas no final deste trabalho possam auxiliar os órgãos responsáveis pela elaboração de medidas de prevenção e ainda servir de apoio para gestão e política adequada de planejamento de distribuição de recursos destinados à proteção contra incêndio urbano no Centro Histórico de Belém.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDREZA, P., Uma nova maneira de pensar sobre o gerenciamento de riscos de incêndios em espaços urbanos históricos. XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT 664: Projeto de rede de distribuição de água para abastecimento. Rio de Janeiro, 1994. NR 23 - Proteção Contra Incêndios – Portaria Nº 3214, do Ministério do Trabalho. 1978. Policia Militar do Estado de São Paulo, Corpo de Bombeiros, Instrução Técnica Nº 34. São Paulo, 2004.
 
BREDA, I. L., Proposta de uma Ferramenta de Organização e Gestão para Combate ao Incêndio Urbano. Dissertação submetida para satisfação parcial dos requisitos do grau de Mestre em Engenharia Civil. Junho, 2010. 
BARANOSKI, E. L., Análise do Risco de Incêndio em Assentamento Urbano Precário – Diagnóstico da região de Ocupação do  Guarituba. – Município de Piraquara-Paraná. Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Construção Civil, Programa de Pós-Graduação em Construção Civil, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná – UFPR, 2008.
CÂMARA, G.; MONTEIRO, A.; MEDEIROS, J. (ed). Introdução à Ciência da Geoinformação. INPE: São José dos Campos, 2004. Disponível em: . Acesso em: out.2011.
GUIMARÃES, L. H. R., Espacialização da Criminalidade no Centro Histórico de Belém: O Uso do geoprocessamento para definição de diretrizes de intervenção. (Trabalho final de graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade da Amazônia – UNAMA), Belém, 2009. 
MENEZES, J. P., O Corpo de Bombeiros Militar do Pará. Resenha histórica/ José Pantoja de Menezes – Belém: Imprensa Oficial do Estado do Pará, 1998. 325 paginas. 
MICHIDA, C. Fiscalização do CBMPA no CHB. Belém. Entrevista cedida a Leonardo dos Santos em 10 de setembro de 2011. 
OLIVEIRA, M. C. Entrave e Obstáculo acerca da Implantação Urbanística: A Experiência do Plano de Desenvolvimento Local do Riacho Doce e Pantanal. Trabalham de conclusão de curso. CA/UFPA, 2004. 
SANTOS, L. S., Mapeamento dos hidrantes do Centro de Histórico de Belém através de técnicas de geoprocessamento. III Seminário de Iniciação Científica, Tecnológica e Inovação das Instituições de Ensino Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Tucuruí, 2011. 
SILVA, F. S., COELHO, L. C., Incêndio, Hidrantes e Vulnerabilidade: Implicações para a gestão do sistema de segurança cearense. Disponível em: http://www.defesacivil.ce.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=590&Itemid=201. Acesso em 28/12/2012. 
XAVIER-DA-SILVA, J. S. Geoprocessamento para análise ambiental. Rio de Janeiro. 2004. 228

 

22 de julho de 2014

ANÁLISE DA DINÂMICA DA COBERTURA VEGETAL URBANA NA ILHA DE CARATATEUA, DISTRITO DE BELÉM-PA, UTILIZANDO ÍNDICE DE VEGETAÇÃO POR DIFERENÇA NORMALIZADA PARA OS ANOS DE 1984 E 2008.

XXVI Congresso Brasileiro de Cartografia
V Congresso Brasileiro de Geoprocessamento
XXV Exposicarta
 
 
Leonardo Sousa dos Santos1
Orleno Marques da Silva Junior²
Tiago Gomes de Sousa³
¹Universiade Federal Rural da Amazônia
²Universidade Federal do Rio de Janeiro
³Universiade Federal Rural da Amazônia
 
RESUMO
A desorganização do uso solo dá origem a áreas urbanas com pouca ou nenhuma infraestrutura urbana, o que acaba por destruir áreas verdes e rios, além de provocar a saturação dos serviços públicos. Neste contexto as imagens de sensoriamento remoto orbitais, através de diversas metodologias, vêm sendo utilizadas para gerar estudos sobre planejamento urbano com reduzido custos de análises. A cobertura vegetal urbana representa aspectos ecológicos como: amenização climática, redução da poluição do ar, influencia direta no ciclo hidrológico urbano, proteção do solo, amenização de ruídos, valorização estética, entre outros. As pesquisas de mapeamento e quantificação de área verde urbano vêm aumentando nas últimas décadas em decorrência da rápida urbanização, associada à inexistência de planejamentos. A metodologia de trabalho compreende o mapeamento da cobertura vegetal, observando-se as áreas de perda de vegetação para os anos de 1984 e 2008, através do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada, acrônimo NDVI, do recorte espacial os limites Político-Administrativos da na Ilha de Caratateua, Distrito de Belém-PA. A Ilha, distrito administrativo do município de Belém, possui cerca de 80.000 habitantes, distribuídas em 4 bairros, distantes cerca de 30 km do centro de Belém. Caratateua é uma região balneária muito procurada, em especial devido a proximidade com a Capital, por pessoas que vão lá em busca das praias de água doce. O crescimento urbano ocorrido no município de Belém acarretou substancialmente uma expansão da ocupação na ilha de Caratateua, fato esse intensificado a partir da construção da ponte Enéas Martins. A ocupação também esta associado ao crescimento dos conjuntos habitacionais populares, impulsionados, principalmente, pelo Governo Federal e financiados pelo antigo Banco Nacional da Habitação (BNH). Outras características do crescimento da área urbana de Caratateua é a especulação imobiliária que impulsiona a população mais pobre para áreas mais suscetível a impactos ambientais, como por exemplo, áreas de mangues e nascentes de rios. Com a metodologia empregada pode-se observar, avaliar e quantificar perda de vegetação, objetivando o melhor gerenciamento e planejamento do meio ambiente, o qual pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas residentes na ilha e na estabilidade do ecossistema.
 
 
1. INTRODUÇÃO
A cobertura vegetal urbana representa aspectos ecológicos como: amenização climática, redução da poluição do ar, influencia direta no ciclo hidrológico urbano, proteção do solo, amenização de ruídos, valorização estética, entre outros (SILVA, 2007). Assim, atualmente a arborização de urbana deve satisfazer vários requisitos como: estético, ambiental, social e econômico.
De acordo com Rodrigues (2007), a vegetação urbana revela aspectos da qualidade ambiental, podendo indicar a qualidade de vida da população que vive nesses espaços e ainda desempenha importante papel na manutenção ecológica, na saúde mental dos habitantes e nas funções sócio-educativas.
As pesquisas de mapeamento e quantificação de área verde urbano vêm aumentando, nas últimas décadas, em decorrência da urbanização intensa e caótica instalada nas regiões a partir da década de 70. Rodrigues (2007), afirma que a fragmentação da cobertura vegetal em áreas urbana, e principalmente em vias públicas, é resultado direto do crescimento das cidades, que devido à necessidade de espaço acabam sendo suprimida, substituída ou restringida por vias para circulação de veículos, instalação de empresas e edificações residenciais.
Neste contexto, a rápida urbanização, associada à inexistência de planejamentos e crises econômicas, provoca total desorganização no uso do solo, o que dá origem a áreas urbanas sem nenhuma infraestrutura, que acabam por destruir áreas verdes e rios, além de provocar a saturação dos serviços públicos.
Partindo destas premissas, o uso do sensoriamento remoto com base na análise de imagens são uns dos meios que se dispõem para estudo das mudanças em área de arborização urbana, ou seja, nas últimas duas décadas as imagens de sensoriamento remoto orbitais, através de diversas metodologias, vêm sendo utilizadas para gerar estudos sobre monitoramento da vegetação urbana com reduzido custos de análises.
Ou seja, os avanços tecnológicos de sensores remotos permitem analisar, através de imagem de satélites, a distribuição e modificações da cobertura vegetal em diversas épocas, possibilitando o monitoramento das áreas vegetadas.
Uma das principais metodologias é o Índice de Vegetação por Diferença Normalizada, acrônimo NDVI em inglês, que se destaca em estudos sobre cobertura vegetal verde, podendo ser aplicada como, por exemplo, detectar áreas de perda e ganho de vegetação, estimativas de biomassa entre outros (COSTA, 2013).
Assim, o objetivo deste estudo é realizar uma análise da dinâmica da perda de cobertura vegetal da Ilha de Caratateua por meio de NDVI, observando-se as áreas de perda de vegetação para os anos de 1984 e 2008.
 
.1 Área de Estudo
A Ilha de Caratateua, Ilha das Barreiras ou Ilha de Outeiro “Fig.1” como é popularmente conhecida, é um distrito pertencente ao município de Belém-Pa, situado entre as latitudes 1º 12’ e 1º 17’S, e entre as longitudes de 48º25’ e 48º29’ W GR, compondo a região norte do município de Belém do Pará.
 
Fig. 1 – Localização da área de estudo, Ilha de Caratateua, ao norte do município de Belém.
Fonte: Autor.
A Ilha, distrito administrativo do município de Belém, possui cerca de 80.000 habitantes, distribuídas em 4 bairros, distante cerca de 25 km do centro de Belém. Caratateua é uma região balneária muito procurada, em especial devido a proximidade com a Capital, por pessoas que vão lá em busca de suas sete praias de água doce.
 
1.2. Apropriação Social da Ilha de Caratateua
Ocupada desde os tempos memoriais por populações indígenas e mais recentemente por populações tradicionais isoladas e consideradas perigosas a Ilha da Caratateua recebe durante muito tempo o tratamento de periferias e reserva de terras urbanas.
O crescimento urbano ocorrido no município de Belém acarretou substancialmente uma expansão na ilha de Caratateua, fato esse intensificado a partir da construção da ponte Enéas Martins em 1986 (SILVA 1995).
A partir da década de 1960 e 1970, o crescimento urbano em Belém se vinculou à abertura das rodovias para a integração com o resto do país – processo observado a partir da implantação do Programa de Integração Nacional (PIN), que visava a integração dos Estados brasileiros por meio de rodovias. No caso da Região Norte, em especial o Estado do Pará, o programa proporcionou a abertura da Rodovia Belém-Brasília e outras vias estruturais que atingiram o interior do Estado e as cidades periféricas à cidade de Belém, dentre elas as Rodovias BR 316 e Augusto Montenegro.
As estruturas estabelecidas pelas mesmas foram definidoras de um novo processo de crescimento para essas áreas, associadas a uma grande ocupação urbana por conjuntos habitacionais populares, impulsionados, principalmente, pelo Governo Federal e financiados pelo antigo Banco Nacional da Habitação (BNH).
Dentro desse contexto, a Rodovia Augusto Montenegro foi definida como o principal vetor de crescimento urbano horizontal da cidade. Tendo em vista que a Rodovia representa o único acesso rodoviário à Ilha de Caratateua, podemos, facilmente, relacionar a expansão urbana que ocorreu nos arredores da Rodovia à expansão que ocorre posteriormente na Ilha.
Outros fatores que concorrem para o crescimento exponencial da área urbana, da ilha em um curto espaço de tempo, referem-se a: condições físicas e estruturais da periferia de Belém, caracterizada por áreas alagadas; valorização do solo e/ou a especulação imobiliária no centro da cidade; impulsionando a população a se afastar para áreas mais distantes, onde o solo enquanto reserva de valor ainda não atingiu cifras incompatíveis com as camadas sociais menos aquinhoadas economicamente (FELIPPE, 2005).
Segundo Fantin apud Campos Filho (2007), a especulação mobiliária é definida como: 
Uma forma pela qual os proprietários da terra recebem uma renda transferida dos outros setores produtivos da economia, especialmente através de investimentos públicos, de infraestrutura e de serviços urbanos, que são os meios coletivos de produção e consumo em nível do espaço urbano. 
Ainda segundo o autor, a especulação resulta em uma cidade caótica, com sérios problemas referentes à ausência de saneamento básico, escola, transporte coletivo, violência, desemprego, segregação urbana, concentração fundiária, favelização e degradação ambiental.
Silva (1995), ao analisar do processo de urbanização de Belém, mostra que em virtude de seu intenso inchamento demográfico, principalmente entre as décadas de 1980 e 1990, houve mudanças também na produção do uso do solo na Ilha de Caratateua tendo como principal consequência à perda de vegetação primária.
A ocupação de início foi liderada por famílias em geral de classe baixa, todavia, hoje a ocupação é resultado direto do crescimento do sítio urbano com as construções de habitações em área insalubres, forte presença da especulação imobiliária com a consequente expansão dos condomínios e extração de minerais de uso imediato na construção civil.
A população na década de 1970 era de cerca de 1.000 pessoas, aproximadamente, e após a construção da ponte foi incrementada neste processo, somando, em 1991, mais de 15.500 pessoas em número absoluto (MEDEIROS, 1971).
A ilha de Caratateua, na virada da década de 1980 para 1990 obteve um crescimento de 125% (FELIPPE, 2005), ou seja, neste período grande áreas foram desmatadas para o loteamento urbano.
Aliado a ocupação desordenada da ilha houve o aumentando o nível de impactos ambientais, como desmatamento da vegetação de terra firme, ocupação dos leitos de igarapés e de unidade de relevo de praia, ocupação de falésias, extração mineral, entre outros (SANTOS, 2009).
 
3. METODOLOGIA 
Para o cálculo do NDVI, foram utilizadas cenas do sensor Thematic Map (TM) do satélite LANDSAT 5. As cenas foram adquiridas gratuitamente no site o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Como a metodologia envolve a comparação do NDVI em duas épocas distintas utilizaram-se cenas de sensoriamento remoto de mesmas épocas a fim de mitigar as variações sazonais.
Para o cálculo do NDVI, foram utilizadas cenas do sensor sensores Landsat Thematic Mapper ETM+ (Enhancend Thematic Mapper Plus) previamente obtidas no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. Utilizaram-se as bandas 3 (0,63µm – 0,69µm) e 4 (0,76µm – 0,90µm), órbita-ponto 223-062, dos anos 1984 e 2008.
Utilizou-se os seguintes procedimentos estatísticos: (1) calcular o NDVI de duas épocas sem correção radiométrica; (2) realizar a diferença temporal de NDVI sobre as imagens; (3) Calculo da Área de Perda de Vegetação; (4) Reclassificação e (5) Conversão (Raster – Vetor).
O cálculo do NDVI ocorreu sem correção radiométrica, pois segundo Costa (2013), pode-se trabalhar com os valores dos pixels da imagem obtida, porque, estatisticamente os resultados não apresentam imprecisões significativas.
A metodologia de trabalho compreendeu o mapeamento da cobertura vegetal tendo como principal recorte espacial os limites político-administrativos da na Ilha de Caratateua, Distrito de Belém-PA, através de dados espaciais e levantamentos bibliográficos.
Para manipulação, tratamento, álgebra de mapas, organização e quantificação dos dados georeferenciados optou-se pelo software Quantum Gis 1.8, versão Lisboa, licenciado pela General Public License (GNU), conforme o diagrama de trabalho simplificado abaixo, “Fig. 2”. O Quantum Gis, permitiu especializar, analisar e diagnosticar a informação relativa a dinâmica da Cobertura Vegetal Urbana na Ilha de Caratateua, Distrito de Belém-Pa.
 
Fig. 2 – Diagrama metodológico. Fonte: Autor
 4. RESULTADOS
4.1 Calculo da Diferença das Respostas Espectrais
Para gerar o NDVI, utilizaram-se as bandas 3 e 4, sendo respectivamente nas faixas espectrais do vermelho e do infravermelho próximo, Conforme “Fig. 3 e 4”. Na faixa do vermelho a clorofila absorve a energia solar ocasionando uma baixa reflectância, enquanto na faixa do infravermelho próximo, tanto a morfologia interna das folhas quanto a estrutura da vegetação ocasionam uma alta reflectância da energia solar incidente (Medeiros, 2013). Portando, quanto maior o contraste, maior o vigor da vegetação na área imageada.
 
Fig. 3 - Imagens Landsat-5/TM de 27 de julho de 1984 (INPE), orbita/ponto 223/061, nas bandas 3 (0,63µm – 0,69µm), vermelho e 4 (0,76µm – 0,90µm), espectro infravermelho próximo. Fonte: Autor.
 
Fig. 4 - Imagens Landsat-5/TM de 13 de julho de 2008, orbita/ponto 223/061, nas bandas 3 (0,63µm – 0,69µm), vermelho e 4 (0,76µm – 0,90µm), espectro infravermelho próximo. Fonte: Autor.
 O NDVI apresenta resultados significativos na detecção de mudanças na cobertura vegetal verde, como desmatamento e queimadas. Neste contexto o Índice varia de -1 a 1 e é calculado a partir dos valores de reflectância de imagens de satélite referentes ao espectro do vermelho e infravermelho próximo utilizando a fórmula (1):
rivp = valor da reflectância no espectro da banda do infravermelho próximo.
Vr = valor da reflectância no espectro da banda do vermelho.
 
 
Os níveis de cinza da imagem NDVI apresentada na “Fig.5” encontram-se escalonados entre 0 e 225 (8 bits), o que significa que a imagem apresenta diferentes níveis de cinza, os quais estão relacionados aos valores de NDVI que variam entre -1 e +1. Assim de acordo Ponzoni (2012), os tons de cinza mais claro estão relacionados aos valores mais elevados de NDVI, enquanto os mais escuros, aos valores mais baixos. Observa-se na “Fig. 5”, NDVI de 1984 e 2008, os tons de cinza claro que representavam as formações vegetais com maior vigor ou densidade de cobertura fotossinteticamente ativo.
 
Fig. 5 – Calcular o NDVI de duas épocas sem correção radiométrica. Fonte: Autor.
 
Ou seja, os valores mais elevados estão relacionados às áreas com maior quantidade de vegetação fotossinteticamente ativa (área ocupada por vegetação de porte arbóreo), enquanto os mais escuros representam as áreas com menor quantidade de vegetação.
 4.2 Avaliando as Áreas de Perda de Vegetação
Atendo-se exclusivamente à vegetação, observamos na “Fig. 6” a diferença entre NDVI’s para os anos de 1984 e 2008. As áreas com tonalidade escura na imagem representam as áreas com perda de vegetação da Ilha de Caratateua entre os anos de 1984 e 2008.
Fig. 6 - Diferença temporal de NDVI sobre as imagens. Fonte: Autor.
               Realizou-se reclassificação dos valores dos pixels para preparar os dados para conversão em formato vetorial e quantificação da área de vegetação suprimida entre os anos de 1984 e 2008.
Depois de obtidos e interpretados, os intervalos dos valores de pixels foram caracterizados, reclassificados em números e agrupados em categorias, que expressam as condições da vegetação, cujo valor está abaixo do equivalente à média subtraída do desvio padrão, ou seja, os valores menores que – 0,212, aproximadamente (Média - Desvio padrão = - 0,0028 – 0,21 = - 0,212).
Como resultado observa-se na Figura 6 que parte do polígono de perda de vegetação (polígono vermelho) está concentrada a área de expansão urbana, totalizando uma área de 52,95 Km² em 24 anos, ou seja, 2,20 Km² que representa 4% de vegetação suprimida por ano. Na análise da vegetação suprimida por bairros, avaliou-se que o bairro São João do Outeiro com 57,31Km² teve 11,16Km² de perda de vegetação que representa 19% da área total do bairro, “Fig.7”.
 
Fig.7 – Área de vegetação suprimida (vermelho) da ilha de Caratateua. Fonte: Autor.
 
Do total da área de vegetação suprimida obtida através da metodologia utilizada, 52,95Km², Figura 6, os bairros da ilha de Caratateau foram responsável por 32,12Km² da vegetação suprimida o que significa 60% do total de vegetação em 24 anos. Os 20,83Km² referem-se ao restante da área da ilha de Caratateua fora dos limites dos bairros, conforme “Fig. 8”.
 
TABELA 1. ÁREA E PERCENTAGEM DA COBERTURA SUPRIMIDA POR BAIRRO NA ILHA DE CARATATEUA ENTRE 1984 E 2008.
 
O bairro Água Boa de acordo com valores aferidos já perdeu 60% de sua vegetação que representa apenas 7% a menos que a somatória das porcentagens da perda de vegetação dos bairros: Itaiteua, São João do Outeiro e Brasília. A retirada da maior parte da cobertura vegetal do bairro Água Boa, “Fig. 8”, segundo Felippe (2005), está relacionado à atividade extração de materiais como areias, piçarra e argila.
 
Fig. 8 – Área de vegetação suprimida (vermelho) nos bairros e fora dos bairros da ilha de Caratateua. Fonte: Autor.
 
5. CONCLUSÃO
É necessário que a Ilha de Caratateua passe por um planejamento ambiental, que possa avaliar os impactos ambientais intensificados pela perda de vegetação, objetivando o melhor gerenciamento do meio ambiente, o qual contribui para a melhoria da qualidade de vida das pessoas residentes na ilha e na estabilidade do ecossistema, do qual depende a sobrevivência humana.
A vegetação primária encontradas na ilha de Caratateua, já se encontra quase totalmente devastadas na área de expansão urbana em função desta área concentrar a maior parte da terra firme permanecendo apenas pequena área de vegetação secundária existente em quintais, pertencentes a casas, chácaras, fazendas e outros.
Segundo Felippe (2005), a ilha de Caratateua não recebeu um tratamento urbanístico adequado, mesmo sendo reconhecido juridicamente a sua importância enquanto área de lazer, para a cidade, onde o crescimento populacional da Ilha, bem como o seu potencial turístico, foi pouco considerado, resultando provavelmente nos valores de vegetação suprimida.
Os efeitos da ocupação desordenada na área de estudo têm intensificado os processos erosivos em algumas áreas litorâneas através da retirada da cobertura vegetal e ocupação destas áreas por construções como: casa, bares, restaurantes e etc. Outro fator que intensificou a retirada da vegetação primária refere-se à extração indiscriminada de materiais como areias, piçarra e argila.
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 
COSTA, P. F.; SAPIENZA, J. A. Avaliação da necessidade de correção radiométrica para comparação de Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI).  Anais XVI Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto - SBSR, Foz do Iguaçu, PR, Brasil, 13 a 18 de abril de 2013, INPE. Disponível em: http://www.dsr.inpe.br/sbsr2013/files/p1632.pdf. Acesso em: 17 Dez 2013.
MAIA, F. Reflexões Sobre a Política de Gestão Ambiental de Belém. O Desafio Político da Sustentabilidade Urbana. Gestão Socioambiental de Belém. Maria Vasconcelos, Gilberto de Miranda Rocha e Evandro Ladíslau. Belém-PA. Organizadores. NUMA/UFPA, EDUFPA, 2009.
 
MEDEIROS, A. M. de S. Aspectos geográficos da Ilha de Caratateua. Belém: IDESP -Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará, 1971. (Série Monografias, 7).
RODRIGUES, J. E.; LUZ, L. M. Mapeamento da cobertura vegetal da Área Central do município de Belém PA, através de sensores remotos de base orbital (sensor TM, LANDSAT 5 e sensor CCD, CBERS 2). Anais XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Florianópolis, Brasil, 21-26 abril 2007, INPE, p. 1063-1070. Disponível em: http://marte.sid.inpe.br/col/dpi.inpe.br/sbsr@80/2006/11.16.00.05/doc/1063-1070.pdf. Acesso em: 17 Dez 2013.
 
SANTOS, V. C.; MORAES I. S.; CAMPO, F. C. Apropriação do Relevo: Exploração de Minerais Empregados na Construção Civil na Ilha de Caratateua (Belém/Pa), 2007. Disponível em:http://observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal12/Procesosambientales/Usoderecursos/83.pdf. Acesso em:  26 Dez 2013.
 SILVA, A. S.; OLIVEIRA, I. S.; MORAES, J. C. Dinâmica da Paisagem e Risco Ambiental na Ilha de Caratateua, Distrito de Belém-Pa. Disponível em: http://www.revistageonorte.ufam.edu.br/attachments/009_DIN%C3%82MICA%20DA%20PAISAGEM%20E%20RISCO%20AMBIENTAL%20NA%20ILHA%20DE%20CARATATEUA,%20DISTRITO%20DE%20BEL%C3%89M-PA..pdf. Acesso em: 26 Dez 2013.
FELIPPE, M. A. A Política Municipal de Educação nos Anos de 1990 na Ilha de Caratateua/Belém-Pará. Dissertação apresentada para obtenção do Título de Mestre em Educação. Universidade Federal do Pará. UFPA. Centro de Educação, 2005. Disponíveis em: http://www.ppged.belemvirtual.com.br/arquivos/
 

Representações Cartográficas

Globo - representação esférica, em escala pequena, dos aspectos naturais e artificiais de uma figura planetária, com finalidade ilustrativa.

Mapa - representação plana, em escala pequena, delimitada por acidentes naturais ou políticos-administrativos, destinada a fins temáticos e culturais.

Cartas - representação plana, em escala média ou grande, com desdobramento em folhas articuladas sistematicamente, com limites de folhas constituídos por linhas convencionais, destinada a avaliação de distância e posições detalhadas.

Planta - tipo particular de carta, com área muito limitada e escala grande, com número de detalhes consequentemente maior.

Mosaiso - conjunto de fotos de determinada área, montadas técnica e artisticamente, como se o todo formasse uma só fotografia. Classifica-se como controlado, obtido apartir de fotografia aéreas submetidas a processos em que a imagem resultante corresponde à imagem tonada na foto, não controlado, preparado com o ajuste de detalhes de fotografia adjacentes, sem controle de termo ou correção de fotografia, sem preocupação com a precisão, ou ainda semicontrolado, montado combinando-se as duas características descritas.

Fotocarta - Mosaico controlado, com tratamento cartográfico.

Ortofotocarta - fotografia resultante da transformação de uma foto original, que é um perspectiva central do terreno, em uma projeção ortogonal sobre um plano.

Ortofotomapa - conjunto de várias ortofotocartas adjacentes de uma determinada região.

Fotoíndice - montagem por superposição das fotografias, geralmente em escala reduzida. É a primeira imagem cartográfica da região. É o insumo necessário para controle de qualidade de aerolevantamentos utilizados na produção de cartas de método fotogramétrico.

Carta Imagem - imagem referênciada a partir de pontos identificáveis com coordenadas conhecidas, superposta por reticulado da projeção

Revista Geografia, Conhecimento Prático, n 23, p 54. ed. Escala